Os miomas uterinos acometem cerca de 70% das mulheres em idade fértil, sendo que 30% destas apresentam sintomas decorrentes da miomatose uterina. São tumores benignos desenvolvidos a partir da musculatura lisa do miométrio. Com esta elevada prevalência, a miomatose uterina é a principal causa de histerectomia em mulheres na idade fértil, impossibilitando a gestação e trazendo uma gama de transtornos psicológicos envolvidos com a retirada do útero.
Os sintomas incluem aumento do fluxo menstrual, anemia, aumento do volume abdominal, sintomas compressivos (polaciúria, constipação intestinal), dor e infertilidade. Entretanto a maiorias das mulheres com miomas uterinos são assintomáticas e não necessitam de tratamento. Quando surgem sintomas importantes, os tratamentos invasivos são os únicos realmente efetivos na melhora dos sintomas. Isto porque o tratamento medicamentoso só tem efeito transitório, voltando os miomas a crescer após poucos meses e algumas vezes em taxa de crescimento maior que antes. Idealmente o tratamento medicamentoso estaria indicado em pacientes com idade próxima a menopausa, pois o tamanho uterino reduz neste período. Outra possibilidade do uso de medicamentos é induzir a uma regressão transitória do volume uterino para facilitar a cirurgia de miomectomia.
Entre os tratamentos invasivos encontram-se a miomectomia (por histeroscopia, laparoscopia ou por cirurgia aberta), a histerectomia e a embolização das artérias uterinas. a miomectomia é considerada a primeira opção quando o ginecologista avalia que é possível a retirada dos miomas com a preservação do útero. Quando existem múltiplos miomas, torna-se muito difícil a miomectomia de todos estes nódulos, estando indicado a embolização ou a histerectomia. Desde que Ravina em 1995, relatou na revista Lancet a primeira coorte de pacientes submetidos a embolização de artérias uterinas, este método tem se popularizado por seus resultados e vários outros estudos prospectivos e randomizados comparando a embolização com a histerectomia mostram resultados equivalentes, não existindo nenhum método superior ao outro. Estes resultados foram corroborados pelo estudo EMMY trial (radiology, 2008) que randomizou 177 pacientes, mostrou que 92% dos pacientes submetidos embolização e 90% dos pacientes submetidos a histerectomia apresentavam grau de satisfação de moderado a muito satisfeito, não havendo portanto diferença entre estes métodos de tratamento. Estes resultados foram suficientes para que os seguros de saúde realizassem a cobertura para o tratamento da miomatose uterina através de embolização.
Realizamos embolização de artérias uterinas desde 2007. Segue um dos nossos casos tratados para entendimento da técnica e dos resultados.
Mulher de 32 anos, nulípara, com queixa de aumento do fluxo menstrual e cólicas menstruais importantes, com aumento do volume uterino às custas de múltiplos nódulos miomatosos, sendo três nódulos de maior tamanho. Realizado embolização em Fevereiro de 2011 sem intercorrências, com alta no primeiro dia de pós operatório. Neste procedimento é realizado punção da artéria femoral com cateterismo seletivo de cada artéria uterina, por onde é injetado partículas de embolização. Segue a ressonância magnética pré operatória e após seis meses da embolização. É possível observar nitidamente a redução do volume dos principais nódulos e que tornaram-se hipocaptantes:
Ressonância Magnética mostrando nódulos miomatosos antes e após 6 meses da embolização de artérias uterinas.
A esquerda: Antes.
A direita: Controle de 6 meses