Em um universo cuja fila de inscritos para transplantes acumula o significativo número de 33.199 pessoas, o aumento do número de doadores, passando, no segundo trimestre de 2016, de 13,1 para 14 por milhão, no Brasil, ainda não é suficiente. O esperado pela entidade é chegar a 16 doadores por milhão de habitantes.
Segundo o Coordenador da Comissão de Remoção de Órgãos da ABTO, o cirurgião cardiovascular José Lima Oliveira Junior, os números do Brasil, apesar de registrarem alta nos últimos meses ainda estão bem abaixo dos de países considerados avançados nesta questão de doação, como os Estados Unidos, que chegam a registrar índices médios de 30 por milhão.
— Comparando a média dos índices do Brasil, é muito baixa em relação a países como os Estados Unidos. Em algumas regiões do nosso país, como Sudeste e Sul, os índices chegam a 30 por milhão, mas a taxa de doadores efetivos em regiões como Norte e Nordeste cai para dois, três ou quatro habitantes por milhão.
Para a doação de órgãos (coração, pulmão, fígado, pâncreas e rim), tecidos (córnea, ossos, valva — formações membranosas no coração — e pele) e medula óssea é necessária a constatação formal da morte encefálica do doador, quando ocorre paralisação irreversível das atividades cerebrais do indivíduo. Se o doador estiver vivo, pode haver a doação de órgãos como o rim, o fígado e medula óssea.
Um dos empecilhos para uma captação de maior número de doadores tem ligação com a recusa de familiares no momento em que ocorre a morte encefálica, conforme afirma Lima, que aponta o fator cultural como uma das principais razões para o fenômeno. No Brasil, 44% das famílias não permitem a doação, segundo ele.
— Trata-se de uma questão cultural no país, que prevalece em algumas regiões. No Brasil ainda há muita carência de campanhas que falem sobre a doação de órgãos. A informação é fundamental para esclarecer esse assunto e mostrar como alguns dogmas acabam impedindo algo muito importante, que é a doação de órgãos.
Dificuldades do tráfico
Lima informa que cada Estado do país tem sua fila de pacientes que necessitam de transplantes. E elas estão ligadas a uma Central de Transplantes nacional, vinculada ao Ministério da Saúde. Quase todos os transplantes, 95% deles, são realizados pelo Sistema Único de Saúde, em convênios com hospitais públicos e particulares.
— Basicamente o critério para realizar o transplante é o tempo na fila. Os que estão esperando há mais tempo tendem a ter a prioridade. Mas também são levados em conta a gravidade do caso, a compatibilidade entre doador e receptor, com o grupo sanguíneo, o peso e altura do doador, com características específicas para cada órgão.
Incor anuncia que superou 1 mil transplantes de órgãos
Um único doador de órgãos tem o potencial de salvar, em média, de oito a dez pessoas. Vale lembrar que idade não é um fator que bloqueia a possibilidade de doação, desde que o indivíduo esteja no grupo dos “potenciais doadores”. No caso de uma atendimento emergencial, segundo especialistas, a equipe médica que atende, além de ter a prioridade ética de salvar a vida, não sabe sobre a decisão do paciente de ser um doador. Isso só ocorre após a comprovação da morte encefálica e com a aprovação dos familiares, o que envolve outro grupo de médicos, chamados especificamente para realizar o transplante.
Um fator que dificulta o tráfico de órgãos, segundo Lima, algo praticamente impossível de ocorrer devido ao rigor dos procedimentos legais, é que cada paciente tem acesso a informações sobre a sua situação na fila. Com uma senha, cada cadastrado pode acessar informações sobre o seu grupo de espera, além de poder clicar em snt.saude.gov.br , ícone “Prontuário do paciente” e buscar o seu tipo de transplante.
FONTE: R7